Descubra o que é 'rage bait' e qual deve ser nossa resposta cristã

Entre curtidas e conflitos, como a fé pode nos ajudar a não alimentar o ódio nas redes.
13 de novembro de 2025 por
Descubra o que é 'rage bait' e qual deve ser nossa resposta cristã
Brenda Aparecida - Promocat*
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O debate sobre os conteúdos disponibilizados na internet não aceita mais o simples argumento de que ela é apenas um meio. Os criadores de conteúdo, normalmente chamados de “influenciadores”, inserem-se em um ambiente no qual o número de curtidas e comentários representa um objetivo absoluto. A contagem dessas reações não distingue o teor: pouco importa se os comentários são elogiosos ou críticos, o que vale é a quantidade. Percebendo isso, e movidos pela busca por engajamento, surge o fenômeno do “rage bait” (“isca de raiva”, em tradução literal), composto por conteúdos criados intencionalmente para gerar indignação, atraindo muitos comentários e compartilhamentos. É fácil perceber o quanto esse fenômeno é incompatível com a vida cristã.


Certamente, você já se deparou com expressões que, evidentemente, despertam um estado de alerta. O problema é que alguns conteúdos são apelativos e costumam atacar obras artísticas, outros conteúdos e até pessoas. Essas postagens excessivamente críticas exploram a indignação causada pelo desconhecimento e têm como alvo temas que exigem uma abordagem mais profunda, mas são apresentados de forma superficial a um público sem intenção de se aprofundar. O “rage bait” se apoia em quatro pilares: indignação, ignorância, manipulação e desconhecimento.


A lógica do engajamento e o papel das plataformas

Uma matéria publicada pela BBC, em dezembro de 2024, ilustra o “rage bait” com o exemplo de uma influenciadora que exibe nas redes sociais a vida glamorosa de uma modelo em Nova York, cujo maior “problema” é ser bonita demais. Ela, de 24 anos, explica que seus vídeos alcançam milhões de visualizações em razão dos comentários maldosos de pessoas que insistem em dizer que ela não é bonita. O portal Canal Tech explica como esses conteúdos que provocam ódio geram milhões de visualizações, compartilhamentos, curtidas e comentários: “Cada interação, mesmo negativa, conta como engajamento, e isso faz com que os algoritmos impulsionem ainda mais o conteúdo. Assim, ele alcança um público maior e pode até gerar lucro para quem publicou”. Portanto, participar do “rage bait”, através de comentários ou compartilhamentos, significa incentivar os criadores desses conteúdos. Mais grave: compartilhar mensagens de ódio contribui para a construção de um ambiente online cada vez mais hostil. De acordo com a mesma matéria, “isso [rage bait] não beneficia apenas os criadores, mas também as próprias plataformas, que priorizam conteúdos capazes de manter os usuários ativos por mais tempo, mesmo que isso signifique promover postagens que alimentam conflitos ou desinformação”.


A resposta cristã: amor, prudência e verdade

Talvez você mesmo já tenha compartilhado algum vídeo em grupos de WhatsApp da catequese, da paróquia ou da família, acreditando que as pessoas precisam saber que “estão corrompendo nossas crianças”, “o mundo está perdido”, “o demônio está mais perto” e tantas outras expressões provocadoras que geram raiva e medo. É claro que existem conteúdos perigosos na internet, mas note a ironia: muitos dos que denunciam esses perigos são, em si, igualmente perigosos. O “rage bait” se alimenta do ódio e essa é uma armadilha na qual não podemos cair. A mensagem cristã é sempre amorosa, acolhedora e caridosa, voltada ao perdão e à conversão. Todo conteúdo baseado na raiva e na condenação é incompatível com a missão evangelizadora.


O cristão deve viver as bem-aventuranças e refletir esse espírito também na internet. Para isso, não podemos ser violentos (Mt 5, 5), o que nos impede de fazer comentários maldosos, mesmo quando acreditamos lutar pela justiça. Ao contrário, ao compartilharmos conteúdos que geram raiva e indignação, contribuímos para ampliar o alcance de mensagens de ódio. É preciso ter o coração puro (Mt 5, 8), o que nos leva a enxergar a vida com bondade e esperança. Os conteúdos de “rage bait” exploram a ignorância para despertar indignação diante de algo que as pessoas não conhecem e nem se dispõem a conhecer. Tudo parece malicioso quando o coração de quem compartilha está atribulado. Se tudo o que está sendo publicado nas redes sociais tem tom de ódio, lembre-se: “a boca fala daquilo de que o coração está cheio” (Mt 12, 34).


Um chamado à comunicação honesta e prudente

Em audiência geral, no dia 30 de julho de 2025, o Papa Leão XIV afirmou: “Vivemos numa sociedade que adoece devido a uma bulimia das conexões nas redes sociais: estamos hiperconectados, bombardeados por imagens, às vezes até falsas ou deturpadas. Somos oprimidos por múltiplas mensagens que suscitam em nós uma tempestade de emoções contraditórias”. Ao final da reflexão, o Pontífice pede ao Senhor que nos ensine a comunicar de maneira honesta e prudente. Em relação ao “rage bait”, comunicar com honestidade significa comentar e compartilhar apenas conteúdos relacionados à sua área de conhecimento e experiência. Por exemplo, se você não consome com frequência animações, não compartilhe conteúdos dizendo que determinadas obras “são do demônio”; se não joga videogame, evite afirmar que esse tipo de entretenimento incentiva a violência. Para saber se algo é bom ou ruim, é preciso fazer a experiência. Se você quer realmente participar do debate, procure pessoas que entendem do tema. E, como orienta o Papa, é preciso agir com prudência. Perceba os conteúdos exageradamente apelativos e lembre-se: “quem se irritar contra o irmão terá de responder em juízo” (Mt 5, 22). Você tem certeza de que está indignado com algo realmente mal ou alguém disse que é mal e você simplesmente acreditou? Você tem certeza que está indignado com algo que realmente aconteceu?


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Evangelizar sem ódio: a missão nas redes sociais

A missão evangelizadora é incompatível com conteúdos que provocam ódio, e o cristão precisa aprender a identificar os criadores que se aproveitam dessa emoção para gerar engajamento. Não se permita ser instrumento daqueles que transformam o ódio em compartilhamento e comentários. Desejo-lhe o que São Paulo desejou aos Colossenses: “Que vossa linguagem seja sempre amável e oportuna, sabendo responder a cada um como convém” (Cl 4, 6). Que assim seja!


Este artigo foi escrito por Luís Gustavo Conde, catequista, autor de artigos e palestrante de temas ligados à Igreja.


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