Pastoral da Comunicação – A acolhida e o acolhimento

Um modo de ser da Igreja que evangeliza pela comunicação e pelo encontro pessoal
30 de outubro de 2025 por
Pastoral da Comunicação – A acolhida e o acolhimento
Redação
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Comunicação e Acolhida


O ser humano é um ser que se relaciona comunicando sempre utilizando linguagens diversas como a linguagem verbal e a linguagem não verbal. Para se desenvolver uma boa comunicação é preciso libertar-se dos bloqueios, ser criativo e espontâneo, evitando seguir regras rígidas e idéias de uma única resposta certa... Aprender a interpretar a linguagem do corpo, entender e usar gestos, aprender a ouvir, saber fazer perguntas, ler com eficiência, prestar atenção, aprender a fazer contato, saber passar informação, são alguns requisitos essenciais para uma comunicação. 


Para a Igreja comunicação tem como objetivo a Comunhão, que é sua verdadeira vida e missão. A acolhida é uma forma de comunicação, a primeira. Trata-se de uma experiência que nos leva a valorizar o outro, pois toda ação humana e pastoral nasce e vive do desejo de acolher e ser acolhido. A palavra acolher, significa dar acolhida, receber, atender, receber, dar crédito a, dar ouvidos, admitir, aceitar, tomar em consideração, abrigar. É um ministério que envolve a ação pastoral, missionária, litúrgica da Igreja e está inserida na Pastoral da Comunicação. É preciso educar-se e educar para sermos acolhedores. Isso significa, é necessário desenvolver a capacidade de comunicar de maneira eficiente e eficaz.


A organização da Pastoral da Acolhida requer um trabalho conjunto entre pastorais, serviços e ministérios. Toda ação pastoral da Igreja, é na verdade, uma ação de acolhida. A Pastoral da acolhida é, no entanto, uma ação programada envolvendo metas e atividades, preparação de agentes, cursos e oficinas para despertar a consciência para uma atitude acolhedora. Acolhida se faz através e sobretudo do encontro pessoal mas também através do ambiente, com uso de meios, através da linguagem e de recursos humanos  e materiais. Acolher é comunicar. O acolhimento é uma atitude cristã independente de participar ou não de uma pastoral.


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Pastoral da Acolhida 


Acolher é um desafio para a Igreja.  A Igreja, através de vários documentos, diretrizes, iniciativas e planos tem falado sobre a importância do acolhimento. A acolhida não é mais uma “pastoral” ou serviço. É antes de tudo uma condição, um modo de ser da própria Igreja prolongando a ação de Jesus. Atitude de abertura, de reconhecimento do outro. Foi assim também que surgiu o ministério ou pastoral da acolhida. Cada vez mais, nossas comunidades vão descobrindo que o acolhimento não é função de uma equipe somente, nem se restringe a momentos especiais. A atitude acolhedora deve ser uma marca de todos, sem distinção, em todos os momentos e lugares. E se traduz na capacidade de ver além das aparências. De descobrir o que cada pessoa tem de bom, de qualidades, de potencialidades. 


Jesus é a referência. Ele era capaz de olhar para um homem rude e frágil como Pedro, e ver nele um grande líder espiritual. Olhou para um homem corrupto como Zaqueu e enxergou ali alguém capaz de se converter e partilhar todos os bens adquiridos. Na mulher samaritana, vítima de preconceito e exclusão por ser estrangeira e ter se casado seis vezes, Jesus consegue vislumbrar a presença de uma dedicada missionária. Quando todos vão com pedras para atirar na mulher adúltera, Jesus vem com palavras de carinho e perdão. Aprendemos com Jesus que acolher é ver com os olhos do coração, enxergar além, ser capaz de ouvir, “gastar tempo” com o outro, valorizar o que cada um traz dentro de si, fazer com que o outro se sinta útil e importante para nós.


​O documento 71 da CNBB, “Diretrizes da Ação Evangelizadora”, nos lembra que, quando vêm ao nosso encontro, “as pessoas não buscam em primeiro lugar as doutrinas, mas o encontro pessoal, o relacionamento solidário e fraterno, a acolhida” (n. 99). 


Pastoral da Acolhida é um elemento constitutivo da evangelização que revela o coração de Jesus cheio de misericórdia e de esperança. Sendo ela uma ação eclesial, a pastoral envolve a todos, pois "a evangelização é obra de todos e a unidade é força motora de qualquer pastoral "(EM 60). 


Os agentes da Pastoral da Acolhida são responsáveis pela comunicação interpessoal na comunidade. Garantem no dia a dia a Imagem da Igreja – Mãe acolhedora, e recebem em primeira mão os sentimentos e desejos do povo de Deus. Pastoral da Acolhida é um trabalho de acolhimento aos irmãos para que possam se sentir membros da comunidade e favorecer que as pessoas sejam tocadas por atitudes além das palavras. A pastoral da acolhida promove a evangelização como  testemunho. É muito mais do que o “atendimento ao público”.  É um sinal de amor da própria comunidade.


A Pastoral da Acolhida é espaço para o evangelizador e a evangelizadora, porque evangelizar é comunicar (Doc. De Puebla 1063). Junto com todas as forças vivas da comunidade, o agente da Pastoral da Acolhida é responsável pela imagem pública da Igreja.

"Acolhei-vos uns aos outros, como Cristo nos acolheu para a glória do Pai" (Rom 15,7).


Alguns critérios de Relações Humanas 


Para saber acolher é preciso aceitar-se e saber aceitar. Dessa arte depende o acolhimento ou acolhida que favorece o encontro consigo e com os outros. A acolhida é uma característica humana, expressão da capacidade de confiar, de amar, de crer. 


Acolher pode ser sinônimo de receber, aceitar, confortar ou o oposto de rejeitar e julgar. Acolhimento é uma atitude de reconhecimento do valor pessoal e do outro. Há uma relação entre acolher o outro e acolher a si, reconhecendo-se como pessoa. É uma atitude de abertura, de favorecer o encontro, a partilha, a convivência. É uma atitude de não julgamento e de favorecer que o outro venha ao encontro e encontre antes de tudo uma presença. Presença de maturidade e sabedoria.


Algumas atitudes de acolhida


  • Acolher a todos. Entender que a comunidade é um local de acolhida para pessoas de variadas condições sociais, culturais e religiosas.


  • Ter formação religiosa, experiência e vivência de comunidade cristã, formação adequada e qualidades humanas específicas para lidar com o público.


  • Acolhimento deve ser personalizado segundo as necessidades de cada  pessoa conforme sua condição de idade, saúde, postura, participação na comunidade.


  • Cultivar atitudes e gestos de cordialidade: cumprimentar, mostrar interesse real, ser amável, saber ouvir, respeito.


  • Atendimento justo sem privilégios


  • Postura pessoal simples e elegante


  • Ser um evangelizador.


  • Explicar com as palavras que forem necessárias, mas evitar longos e intermináveis discursos.


  • Atender uma pessoa por vez e se for possível em espaço personalizado e não na frente dos outros.


  • Entregar informações gerais por escrito.


  • Responder às críticas com ponderação.


  • Dizer-se, apresentar-se.


  • Reconhecer suas limitações. Caso não saiba o que dizer, assumir seu desconhecimento e jamais inventar.


  • Não “inventar” ou criar exigências além das orientações pastorais; 


  • Evitar ao máximo a burocracia;

Uma pessoa considera-se bem recebida, mesmo quando tem o não como resposta, se:


  • Você ouve o que ela tem a dizer; 


  • Você explica o motivo da resposta negativa; 


  • Você a trata com delicadeza e respeito; 


  • Você a encaminha para a área indicada; 


  • Você justifica o não atendimento e se coloca à disposição para atendê-la em outra ocasião.


Alguns desafios para a Pastoral da acolhida


  1. O trabalho de acolher as pessoas na comunidade é complexo. Muitas vezes a situação envolve dificuldades maiores do que o previsto.


1 - A Pastoral da Acolhida deve estar preparada para receber e encaminhar pessoas que pouco conhecem a comunidade e por isso podem ter preconceitos e hostilidades ou se sentem diminuídas e ameaçadas diante da estrutura eclesial. Alguém não familiarizado com a Igreja por não reconhecer a função das pessoas ou ter dificuldades para entender os programas e processos da comunidade.


2 - A Pastoral da Acolhida acolhe também pessoas que já fazem parte da comunidade e que podem compreender os procedimentos da comunidade.  Mas, mesmo neste caso, surgem dificuldades – às vezes a proximidade do relacionamento pessoal pode supor privilégios, exceções. A Pastoral da Acolhida neste caso deverá, também, com paciência e alegria, solicitar a colaboração de todos.


3 - Muitas vezes as dificuldades de relacionamento podem ter origem no próprio responsável pela comunidade que, por muitos compromissos, limites de saúde, idade ou personalidade, tem dificuldades de estabelecer uma boa comunicação com a comunidade. Esta situação vai exigir da Pastoral da Acolhida a construção de uma ponte para se manter a comunicação.


4 - Quem faz a Pastoral da Acolhida deve ter uma boa compreensão dos valores que estão em jogo para, a cada momento, fazer a escolha certa, sempre em favor da pessoa e da Comunidade que está sendo atendida. Os especialistas em Relações Humanas chegam a afirmar que uma pessoa bem atendida conta sua experiência para outras duas ou três; porém, alguém mau atendido reclama e conta o fato para oito ou dez pessoas.


5 - A pessoa que assume o ministério da Pastoral da Acolhida deverá cultivar virtudes pessoais que a ajudam a ser simpática e acolhedora. 


6 - As várias pastorais e movimentos que constituem a vida da comunidade são também uma referencia para a imagem da própria comunidade.


Dicas para um bom acolhimento: Cumprimente as pessoas. Sorria. Chame as pessoas pelo nome.  Seja uma pessoa prestativa. Seja cordial, generoso e simples. Acolha e atenda com todo o prazer. Interesse-se sinceramente pelos outros. Saiba encorajar, dar confiança, elevar os outros. Respeite a condição do outro. Saiba ouvir. Seja disponível. Faça tudo da melhor maneira possível.


Alguns erros a evitar. Há atitudes que objetivamente podem não só ferir como afastar pessoas. É preciso evitá-las pois, além de incompatíveis com a missão da Igreja não servem para uma relação humana saudável.


  • Exibicionismo, autoritarismo, atitudes e atos de monopolização, confronto com pessoas ou grupos com a intenção de gerar conflitos e provocações;


  • Exercer pressão sobre pessoas ou grupos;


  • Atribuir a si uma autoridade que não tem assim como transferir para a comunidade a culpa de suas falhas;


  • Ignorar as orientações da Igreja seja do ponto de vista Teológico, pastoral, litúrgico ou canônico;


  • Delimitar seu trabalho ao seu campo de visão e reclamar das exigências do seu serviço;


  • Evitar atitudes e gestos grosseiros, arrogantes, vulgares ou boçais como gargalhadas, falar alto, usar gírias, mastigar chicletes enquanto atende, fumar durante o trabalho, usar óculos escuros, fofocas, intimidades falsas com pessoas estranhas (bem, querido, tu, etc.);


  • Má vontade tanto no assumir quanto no executar tarefas relativas a sua missão;


  • Manipulação de informações, imposição de opiniões, reações de fúria e agressividade;


  • Atitudes formais e frias, modo indelicado e distante de atender;


  • Dependência, falta de iniciativa e incentivo pessoal;


  • Incapacidade de suportar contrariedades e críticas;


  • Medo de tomar decisões e procurar ajuda quando precisa;


  • Não colocar a culpa de eventuais situações em outros funcionários, padres, agentes de pastoral;


  • Não emitir opiniões pessoais para se livrar de algum embaraço;


  •  Insensibilidade às mudanças da sociedade;


  • Timidez, baixa-estima, individualismo, falta de preparação;


  • Maior importância às normas e regras do que às pessoas;


  • Falta de compromisso;


  • Comodismo; 


  • apatia;


  • Falta de organização e despreparo para a tarefa;


  • Falta de disponibilidade pessoal; 


  • Medo de se abrir ao novo, discriminação, preconceito;


  • Preocupações pessoais, insegurança;


  • Preconceito e discriminação;


  • Falta de entusiasmo, desmotivação.


Como agir com eficiência como agente da pastoral da acolhida.


Vontade e disposição: esteja sempre disposta(o) para assessorar e acolher as pessoas;

Faça de seu trabalho um fim para a sua realização: e não simplesmente um meio para sair da rotina doméstica, para mostrar que também sabe fazer alguma coisa, para conhecer bastante gente... 

Discrição: muitos contatos envolvem aspectos confidenciais, seja discreto;

Objetividade: seja uma pessoa objetiva, precisa, prática em tudo;

Criatividade: encontre soluções desenvolvendo sua criatividade; ouse ser original;

Lealdade: seja leal em tudo na sua paróquia;

Respeito: respeitar a estrutura de sua paróquia e a maneira de ser das pessoas;

Iniciativa: tome iniciativa para facilitar a rotina de todos;

Dinamismo: execute sua missão com alegria e disposição;

Paciência: saiba ter equilíbrio e não seja uma pessoa agressiva;

Pontualidade/Assiduidade: aprenda a planejar, organizar e controlar seu tempo; atrasos e faltas somente em casos de emergência;

Relacionamento: relacione-se bem com todos, independentemente de sua posição hierárquica, valores culturais, situação econômica...

Aparência pessoal: cuide da aparência, ela fala de você e da instituição;

Cultura: atualize-se permanentemente;

A paróquia: conheça a paróquia onde você atua

Autenticidade: procure ser uma pessoa autêntica; seja você mesma.


Preparação para o acolhimento 


Para que haja acolhimento é preciso ter clareza sobre o que se pretende e o que é necessário fazer para realizar essa ação.


Antes de tudo é preciso ter consciência da importância e da necessidade da acolhida como atitude permanente nos relacionamentos humanos e uma expressão de nosso ser Igreja, povo de acolhida.


Para implantar uma pastoral de acolhida é preciso um planejamento e organização para unir pessoas, esforços e ativar essa experiência na prática. 


Uma comunidade pode organizar a pastoral da acolhida considerando os diversos aspectos que favorecem essa prática como ajudar as pessoas a serem reconhecidas na sua identidade, na sua pertença a algum grupo, dando-lhe o devido valor;  buscar os afastados, introduzi-los na comunidade, por exemplo.


É preciso ainda reconhecer os locais preferenciais para o acolhimento como as secretarias diocesanas e paroquiais, as comunidades, o próprio trabalho pastoral como – catequese, exéquias, saúde entre outros; as visita de casa em casa ou no local de trabalho, no lazer, em todas oportunidades que surgirem e que seja necessário o gesto de acolhimento.


A qualidade na acolhida deve ser constante preocupação. Acolher é uma atitude humana e evangélica. Para a acolhida, o ideal é que sejam preparadas pessoas comprometidas com a missão a elas destinadas. 

Muitas atividades envolvem o acolhimento, e devem ser executadas, sempre, com planejamento, responsabilidade e conscientização.


Tipos de acolhimento e de pastoral de acolhimento


1 - Acolhimento ambiental (comunicação visual); 

2 - Acolhimento domiciliar: visitas às famílias que chegam à comunidade; visitas domiciliares frequentes, mormente em ocasiões tristes e alegres;

3 - Acolhimento na liturgia;

4 - Acolhimento aos transeuntes; 

5 - Acolhimento aos candidatos aos sacramentos;

6 - Acolhimento no espaço sagrado - manter as Igrejas abertas o dia todo, dentro do possível

7 - Desenvolver a consciência da cultura da acolhida;

8 - Capacitação aos assessores paroquiais

9 - Trabalhar a acolhida em todas pastorais e movimentos que formam a comunidade


Assessor paroquial da acolhida. É o  que coordena a ação pastoral da acolhida. O assessor deve conhecer muito bem a vida e os serviços da paróquia como a disponibilidade de tempo do pároco, horários das celebrações, cursos, palestras, encontros, reuniões das pastorais e movimentos todos os eventos especiais da paróquia.


O assessor deve procurar conhecer toda a liderança da paróquia, manter o cadastro de cada pessoa em dia para eventuais comunicações. Gerenciar as informações, manter-se em contato com a secretaria paroquial.  Deve ter postura “profissional” e um método de trabalho organizado: com o material necessário e de qualidade, com a aparência pessoal, com atitudes Aquele que procura o escritório paroquial jamais deve presenciar discussões entre funcionários, nem tomar conhecimento de algum problema da paróquia.


Conhecer muito bem as normas estabelecidas pela Diocese, procurando minimizar a burocracia e não exigir nada além destas normas. Saber manusear documentos e livros necessários ao bom relacionamento entre as pastorais e entre a paróquia e Diocese. Estar atualizado com tudo o que se refere à Igreja: notícias sobre o Papa, o Bispo, a Diocese, a CNBB, o clero.


Procurar sempre melhorar sua condição profissional, fazendo cursos, reciclagens, como também a parte espiritual, conscientizando-se da necessidade da atitude cristã de acolhida suscitando o amor fraterno e a esperança ao irmão.


Este artigo foi escrito por Pe. José Alem, cmf para a Revista Paróquias.  


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