Caminho possível.

Aposte em uma pastoral que atenda e contribua para a evangelização no ambiente urbano.
28 de novembro de 2024 por
Caminho possível.
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Por Côn. Edson Oriolo


As grandes evoluções tecnológicas, científicas, políticas, religiosas e virtuais vêm transformando o mundo urbano e afetando diretamente a vida das pessoas, suas ideias, seu modo de viver, conviver e agir.  

Estas evoluções alteram os hábitos e costumes das pessoas, a começar pelos horários que dificultam a convivência familiar e a prática de atividades que eram regidas pelo calendário eclesiástico.

O progresso exige sacrifício de todos, a ponto de trocarem o dia pela noite, substituírem o descanso e o lazer pelo trabalho. Consequentemente, os horários da vida urbana não favorecerem mais os períodos de oração, celebrações, missas, encontros celebrativos, terços, etc.

No nosso cotidiano percebemos uma expectativa cultural de mega eventos como: Rock in Rio e os grandes shows. Festa é som, agitação, movimentação de extravasar as repressões que a convivência do dia a dia coloca às pessoas (no trabalho, nas repartições publicas, no ir e voltar do trabalho). A velocidade dos “eventos” ocorre de forma instantânea, simultânea e em tempo real. Por outro lado, a convivência humana, em um mundo em constantes evoluções, requer momentos de intimidade, de serenidade, de partilha como se percebe pelo uso que se faz dos celulares, das redes sociais.

Entre a cidade de ontem e o urbano contemporâneo precisamos ajudar os fiéis a olharem para dentro de nossas paróquias e os presbíteros a olharem para fora. Este contraste é impressionante, pois como dizia Sêneca: “não adianta o vento favorável se o barco desconhece o porto do destino”.

Saber readaptar com flexibilidade e planejamento, as mudanças de nossa ação pastoral (atendimento, celebrações, missas, reuniões, encontros, momentos de oração) na história religiosa das pessoas, é usar da força convocatória da Igreja para sair da pastoral de manutenção e conservação e fazer com que as pessoas possam se comprometer pessoalmente e conscientemente com Cristo pelo caminho da Eucaristia.

A paróquia é o lugar privilegiado onde os fiéis fazem a experiência concreta de Cristo e a comunhão eclesial. (cf. EA41). A ação evangelizadora paroquial deve atingir em níveis distintos de adesão: prosélitos, discípulos e apóstolos de acordo com que se entender a mensagem especifica da vida cristã: adesão a um projeto de salvação.  

A década de 1960 marca o início da reversão desse modelo social. As pessoas percebem, no processo de crescimento industrial e no rompimento com os valores tradicionais, o surgimento de uma sociedade não estagnada, onde há possibilidade de ascensão, nas condições de vida e de trabalho. A cidade apresenta-se como espaço adequado para essa relação. 

O ambiente urbano, com o qual o homem do campo se depara, é como que uma “teia de aranha”. A cidade prospera organicamente, empurrando todos os limites possíveis. Nada de fronteiras, nada de interdições, nada de limites. As instituições: igreja, empresas, trabalho e família, se tornam completamente difusas no novo cenário. A forma de pensar do homem que vive a mentalidade do urbano, de certa forma, tomou a Igreja de surpresa.   

É imprescindível saber analisar o contexto, para entender como ele influencia o modus vivendi do cidadão urbano, para assim perceber até que ponto nossas iniciativas representam um incentivo para a participação consciente na vida de Igreja e não um fardo, em contraponto com a realidade. 

Frente essas realidades, como devem ser as ações pastorais e as dinâmicas da ação do evangelho (evangelização)?

Não necessitamos de criar novos paradigmas pastorais, precisamos compreender a dinâmica evangelizadora das paróquias através de “Eventos” ou “Encontros”.

Evangelizar por meio de “Eventos”, acontecimentos ou na dinâmica articulada de “Encontros” com planejamentos à luz do Magistério ordinário e extraordinário da Igreja: eis a questão.

No cenário da ação evangelizadora das paróquias muitas estão caminhando com grandes atividades pastorais, grandes encontros, carreatas, celebrações shows, missas com multidões, megashows de evangelização, programas de rádio e TV para arrebanhar fiéis. Esses “Eventos” reúnem dezenas, centenas, milhares de pessoas para finalidades diversas tais como: comemorações, festividades, intercâmbios de conhecimentos, trocas de experiências, troca de informações. Proporcionam encontros de pessoas com a finalidade específica a qual aderem conscientemente. Evangelizam por meio de mega-seminários, peregrinações, assembleias, romarias, etc. Esta dinâmica de evangelização vem tornando uma realidade a nível diocesano, paroquial e comunitário. Alguns a denominam como: “Pastoral de Eventos”.

Acredito que ações evangelizadoras das paróquias devem ser bem articuladas na experiência de Encontros (Cristo-Irmãos). Este projeto pastoral paroquial do “Encontro” “deve ser resposta consciente e eficaz para atender às exigências do mundo hoje com ‘indicações programáticas concretas; objetivos e métodos de trabalho, formação e valorização dos agentes” (DAp, 371).

No entanto para que a ação pastoral – agir da Igreja - aconteça em uma perspectiva do “Encontro” devemos focar a evangelização na reflexão e conscientização, talvez em um equilíbrio entre “Eventos” compromissados e conscientizados com mandato missionário de Jesus Cristo. 

Pastoral “Encontro” é quando a ação da Igreja passa pela reflexão e conscientização, em atividades que levem as pessoas fazerem a experiência do Encontro com Cristo (sacramentos) e os irmãos.

Na década de 90, no início do meu apostolado em Borda da Mata (cidade do interior de Minas Gerais), senti a impossibilidade absoluta de ter um conhecimento pessoal dos fiéis confiados à minha missão, aumentando a sensação de distância e de massificação.

Ciente de que a paróquia não pode ser reduzida a uma instância de serviços burocratizados (marcar hora, pagar taxas, dar informações, preenchimentos de fichas e mais fichas), percebi que havia algo mais a ser feito do que uma relação formal, funcional e anônima com os paroquianos. A organização da paróquia em rede foi para mim uma prioridade. O formar comunidades interligadas por meio de instância facilitadora iria facilitar os canais do relacionamento interpessoal.

Busquei trabalhar com o processo de descentralização interna da paróquia, incentivei a criação de novas comunidades, ministérios, conselhos com autonomia pastoral e financeira confiados particularmente a leigos, de modo que eles sentissem realmente o que são: sujeitos da missão.

Muitas paróquias têm crescido na vida comunitária e na participação ativa dos fiéis, saindo do mero assistencialismo religioso e da simples manutenção da fé. Uma paróquia renovada favorece a centralidade de Cristo no cotidiano da vida dos paroquianos e procura dar espaço à oração, à liturgia e, nos últimos anos, à pedagogia da “lectio divina”, levando ao compromisso profético no mundo.

No entanto, a pastoral “Encontro” deve ter como proposta evangélica: estar ciente de que as pessoas necessitam de ser salvas, de ser redimidas (resgatadas) e de se assumir como criaturas(criação). É nestas três considerações que a ação pastoral do Encontro deve ser processada. São níveis distintos: há pessoas que ainda devem ser ajudadas e se valorizarem como pessoa (autonomia, racionalidade, convivência, saída de si...) e que as tirem do próprio mundo e da própria precisão de sobrevivência material. Há pessoas que necessitam ser resgatadas em sua própria estima e de situação conflitiva (droga, exclusão, exploração material e afetiva, prisão, etc). Há pessoas que necessitam ser salvas de uma vida sem sentido e sem horizonte (doença grave, velhice, morte iminente).

Renovada, atualizada, respondendo aos apelos e clamores do mundo atual, a paróquia será o chão fértil onde os paroquianos encontrarão segurança e possibilidade de viver, com esperança e alegria, pequenos e grandes momentos do seu dia a dia. Na simplicidade e complexidade do cotidiano, experimentarão que, em Cristo e na comunidade fraterna, seus sonhos de realização e de felicidade frutificarão.



Côn. Edson Oriolo é Mestre em Filosofia Social, Especialista em Marketing, Pós- Graduado em Gestão Estratégica de Pessoas, Professor na Faculdade Arautos do Evangelho e Pároco da Catedral Metropolitana de Pouso Alegre/MG, Membro do Conselho de Conteúdo da Revista Paróquias & Casas Religiosas.

Contato: edsonoriolo@uol.com.br

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