Diminui a queda do número de católicos no Brasil

6 de junho de 2025 por
Diminui a queda do número de católicos no Brasil
Fabio Castro - Promocat*
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Católicos perdem menos: Censo 2022 revela tendência de estabilização religiosa no Brasil


Durante décadas, o Brasil foi testemunha de uma transformação religiosa marcada por um movimento vigoroso: a queda constante da população católica e o crescimento acelerado das igrejas evangélicas. A cada Censo Demográfico do IBGE, observava-se uma curva descendente no percentual de católicos e ascendente no de evangélicos, o que levou pesquisadores, líderes religiosos e análises de opinião a preverem um cruzamento inevitável dessas trajetórias. Por muito tempo, previu-se que os evangélicos ultrapassariam os católicos até 2030. No entanto, os dados do Censo 2022 surpreendem: pela primeira vez, ambas as curvas apresentaram desaceleração significativa, sinalizando um possível equilíbrio religioso inédito no país.

Este artigo tem como objetivo analisar, à luz de dados quantitativos e de observações sociológicas e culturais, o novo quadro religioso brasileiro. Vamos examinar as evidências estatísticas da desaceleração, explorar os fatores que possivelmente explicam esse freio no movimento religioso, e discutir as tendências para as próximas décadas.



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Desaceleração das quedas e dos crescimentos

Os dados do Censo 2022 mostram que a proporção de católicos caiu de 64,6% em 2010 para 56,7% em 2022 — uma queda de 7,9 pontos percentuais. Ainda é uma perda expressiva, mas inferior à registrada entre 2000 e 2010, quando a queda foi de 9 pontos. De forma similar, os evangélicos passaram de 22,2% para 26,9% nesse mesmo período, um crescimento de 4,7 pontos percentuais, também menor que os 6,8 pontos verificados na década anterior.

Esses números indicam que, embora a tendência de transição religiosa persista, ela não segue com a mesma intensidade. O ritmo de migração religiosa está diminuindo, e isso tem implicações importantes para projeções futuras.


O Censo Demográfico de 2022 do IBGE revelou um dado surpreendente que contradiz parte das projeções feitas ao longo da última década: tanto a queda no número de católicos quanto o crescimento dos evangélicos no Brasil desaceleraram. Após décadas de variações intensas, os dados indicam uma tendência de estabilização no cenário religioso brasileiro — um novo capítulo para a fé no país.


📊 Evolução histórica das afiliações religiosas (1980–2022)

AnoCatólicos (%)Evangélicos (%)
198089,06,6
199183,39,0
200073,615,4
201064,622,2
202256,726,9

Diminuição

-1,1% de queda

-2,1% de crescimento


📉 Desaceleração: O que os números mostram?


Católicos

1. Entre 2000 e 2010: queda de 9 pontos percentuais

2. Entre 2010 e 2022: queda de 7,9 pontos percentuais

3. Ritmo de queda desacelera pela segunda década consecutiva


Evangélicos

1. Entre 2000 e 2010: crescimento de 6,8 pontos percentuais

2. Entre 2010 e 2022: crescimento de 4,7 pontos percentuais

3. Crescimento mais fraco desde os anos 1980


Mais distante — possivelmente além de 2050. Esse movimento indica que as curvas estão se achatando. A diferença entre católicos e evangélicos ainda é grande (quase 30 pontos percentuais), mas a hipótese de ultrapassagem, antes prevista para 2032, agora está bem mais distante.


Fatores socioculturais da estabilização

Um dos fatores principais para essa estabilização pode ser o esgotamento do público-alvo tradicional das igrejas evangélicas: em grande parte, católicos de baixa renda e baixa escolaridade. Com a urbanização e a ascensão social de boa parte da população, essa migração perdeu força.

A Igreja Católica, por sua vez, vem investindo em ações de revitalização pastoral, como a valorização das comunidades de base, fortalecimento dos movimentos leigos e adoção de linguagens mais acessíveis nas periferias. Essas iniciativas contribuem para a retenção de fiéis, especialmente entre jovens.

Além disso, cresce a visibilidade de outras expressões religiosas (como umbanda e candomblé) e do segmento "sem religião", que absorvem parte das pessoas em transição espiritual e podem ter contribuído para estancar o fluxo direto entre católicos e evangélicos.


🧠 Análise sociológica: Por que esse freio?


Saturação Demográfica:
-O crescimento evangélico se deu em grande parte por conversões de católicos. Com o tempo, essa "reserva de fiéis" diminui. Hoje, há menos católicos dispostos a migrar, o que reduz a velocidade de expansão evangélica.


Ajustes pastorais católicos:
-A Igreja Católica vem intensificando ações de base, engajamento comunitário, e revitalização litúrgica e social, especialmente nas periferias e entre os jovens, o que ajuda a reter fiéis.


Esgotamento de modelos de crescimento:
-Muitas igrejas evangélicas basearam sua expansão na lógica carismática, da "cura e prosperidade". Há indícios de fadiga social frente a esse modelo, especialmente entre os mais escolarizados.


Diversificação religiosa e não-religiosa:
-O crescimento de pessoas sem religião (de 8% para 9,3%) e de religiões de matriz africana (de 0,3% para 1%) também absorve parte dos fluxos que antes seriam direcionados para o campo evangélico.


Diversificação e pluralismo religioso

-Os dados também revelam um aumento na pluralidade religiosa. O grupo "sem religião" passou de 8% para 9,3% entre 2010 e 2022, enquanto religiões afro-brasileiras cresceram de 0,3% para 1,0%. Esses números mostram que o campo religioso brasileiro não está apenas dividido entre católicos e evangélicos, mas se fragmenta em uma constelação de crenças, à medida que o país se torna mais plural.

Essa diversificação pode estar estabilizando os fluxos religiosos. Ao invés de migrarem diretamente de uma religião hegemônica para outra, mais pessoas optam por alternativas mais flexíveis, menos institucionalizadas ou de cunho espiritual, sem identidade religiosa definida.


Projeções para o futuro

-Considerando a velocidade atual de mudança (aproximadamente 1 ponto percentual por ano na diferença entre católicos e evangélicos), a ultrapassagem dos evangélicos poderia ocorrer por volta de 2050. No entanto, com a tendência de desaceleração, é possível que um ponto de equilíbrio se estabeleça antes disso, com os católicos estabilizados entre 50% e 55% da população e os evangélicos entre 30% e 35%, enquanto o restante se dividirá entre outras religiões e a não filiação religiosa.


📈 Tendência de Equilíbrio?


Se a desaceleração observada continuar, podemos projetar cenários de equilíbrio religioso, onde:

1. Católicos se mantenham estáveis entre 50–55% da população

2. Evangélicos estabilizem entre 30–35%

3. Sem religião e outras crenças fiquem com os 15–20% restantes


Essa distribuição não representaria uma ultrapassagem numérica, mas sim uma pluralidade religiosa consolidada, um reflexo da maturidade democrática do país em termos de fé e diversidade espiritual.


Perspectivas político-culturais

Esse novo equilíbrio religioso também traz consequências para o debate público, para as estratégias eleitorais e para a forma como as religiões se organizam socialmente. A Igreja Católica tem retomado o protagonismo em questões socioambientais, direitos humanos e educação, enquanto segmentos evangélicos se veem desafiados a ampliar sua atuação para além do discurso moralizante.

As novas gerações, mais escolarizadas, conectadas e pluralistas, parecem menos dispostas a aderir a religiões com estruturas hierárquicas rígidas ou discursos excludentes. A tendência é de espiritualidade mais fluida, com maior protagonismo pessoal e menos dependência institucional.


Conclusão

O Censo 2022 inaugura uma nova fase do panorama religioso brasileiro. A ideia de que o país se tornaria majoritariamente evangélico em poucas décadas pode estar cedendo lugar à compreensão de que o Brasil caminha para um modelo mais plural, com equilíbrio entre grandes blocos religiosos e crescente diversificação espiritual, mas com o domínio majoritário do catolicismo ainda por muitos anos. Para pesquisadores, lideranças e formuladores de políticas públicas, esse cenário exige uma nova abordagem: não mais sobre hegemonias, mas sobre convivência, diversidade e liberdade de crença como valores centrais da sociedade brasileira. A Igreja Católica, hoje, se posiciona de outra maneira e as previsões mais alarmistas sobre sua queda no número de fiéis não se confirmaram! 

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