A palavra gestão vem de gerir, administrar, governar, comandar, que em termos eclesiológicos, significam pastorear, ser agente de pastoral, desempenhar a missão de pastor. Assim, entendamos gestão como missão. A missão não é de um mero gestor, mas de um pastor, nisso consiste uma das principais diferenças da Igreja das demais instituições. Porém, sabemos que se existem bons e maus gestores, existem também bons e maus pastores. Jesus deixou clara essa definição, mostrando que a diferença entre o bom e o mau pastor está no fato de que o bom pastor é aquele que dá a vida pelas suas ovelhas, enquanto o mau pastor, o mercenário, age por interesse, visando apenas o lucro.
Com esse parâmetro teológico podemos analisar o segundo termo, ou seja, a palavra eficaz. Eficácia é um termo emprestado da administração de empresas. Uma empresa é eficaz quando ela atinge sua meta. No caso da gestão paroquial não é diferente, porém, as metas são diferentes. Uma gestão paroquial é eficaz quando ela atinge seu objetivo geral, que não deixa de ser uma meta. Assim, a meta de uma paróquia é aquela estipulada como objetivo geral no seu planejamento pastoral e missionário. No caso da Igreja no Brasil, a meta ou o objetivo geral, é ser uma Igreja Comunidade de Comunidades. O objetivo geral de uma paróquia deve ser também esse: tornar a paróquia uma Comunidade de comunidades. Para que isso aconteça, é preciso que se faça um bom planejamento pastoral, e que esse planejamento resulte em um bom plano de pastoral, o qual contemplará essa e outras metas, esse e outros objetivos, gerais e específicos, de acordo com a sua realidade, mas sem perder de vista as propostas e os direcionamentos pastorais e missionários da Igreja no Brasil.
GESTÃO PLANEJADA
Muitas paróquias esbarram na dificuldade de elaborar um planejamento pastoral. Muitas não têm planejamento por acomodação, ou por falta de conhecimento do que seja um planejamento pastoral, ou de como fazê-lo. A primeira recomendação para uma gestão eficaz é que se faça um bom planejamento pastoral, e esse planejamento deve ser feito em conjunto, com a comunidade e não em gabinete. Esse procedimento leva certo tempo, exigindo empenho e organização da comunidade para reuniões, estudos e reflexão sobre o processo de elaboração dessa ferramenta de gestão paroquial. Quanto mais pessoas estiverem envolvidas na elaboração do planejamento pastoral da paróquia, mais a paróquia caminhará para a formação de verdadeira comunidade, pois comunidade se forma no processo de gestão partilhada e o planejamento pastoral é um passo importante para uma gestão partilhada.
Assim, o planejamento é uma das instâncias participativas da paróquia, que como comunidade, constrói junto o caminho e dão passos na mesma direção. Quando o padre não tem essa visão participativa, que envolve as pessoas nas decisões da paróquia, ele carece de conversão pastoral, não sendo, portanto, um bom gestor, isto é, um bom pastor, pois o bom pastor, o bom agente de pastoral é aquele que envolve a comunidade nas tomadas de decisões e faz uma gestão participativa, não temendo perder o domínio da situação, ou o seu posto como gestor.
Igualmente, um bom planejamento pastoral é um bom empreendimento. Afirma o Documento n˚ 100, da CNBB: “[...] os planos de pastorais diocesanos e paroquiais precisam ser mais evangélicos, mais comunitários, participativos, realistas e místicos” (n˚ 36). Essa dica é fundamental para uma gestão eficaz. Eficácia aqui é sinônimo de sintonia com as proposta do reino que encontramos nos Evangelhos; é sinônimo de participação, de contemplação da realidade do povo, sem ser algo técnico, ou sem mística e espiritualidade. Não podemos esquecer que estamos planejando uma comunidade paroquial, uma Igreja, e não apenas uma empresa. Por essa razão, o Documento n˚ 100 alerta: “estruturas novas podem ser já caducas: reuniões longas, encontro prolixos, metodologias sem interação”. Todas essas questões devem sem contempladas em uma gestão paroquial para que ela seja de fato eficaz e renovada.
ADMINISTRAÇÃO CORPORATIVA
Administração ou gestão corporativa no âmbito paroquial significa, em outras palavras, gestão participativa, isto é, decisões tomadas em comunidade, algo essencial na Igreja, ou em uma paróquia que se quer missionária, mas infelizmente nem sempre existe essa prática, ou uma preocupação com essa prática. Na maioria das vezes é o padre ou um pequeno grupo quem decide, enquanto o resto dos fiéis leigos nem sabe o que acontece na sua paróquia. Quando falamos de gestão eficaz, falamos de gestão corporativa, de gestão onde está envolvido um conjunto de processos, de ações que regulam e norteiam a vida da paróquia, e esse conjunto de ações envolve um conjunto de pessoas, não apenas algumas lideranças pastorais, ou pessoas mais próximas do padre, mas a comunidade, no sentido eclesiológico da palavra, dando oportunidade, sobretudo, aos que estão afastados ou distanciados.
Assim, o termo administração corporativa inclui o estudo sobre as relações entre os diversos agentes de pastorais envolvidos, leigos e consagrados, e os demais fiéis leigos, que juntos decidem os rumos da comunidade e os objetivos pelos quais a paróquia se orienta. É claro que nesse processo de gestão os principais atores são os membros dos Conselhos paroquiais e os agentes de pastorais mais envolvidos na comunidade, mas esses devem ajudar no processo de inclusão daqueles que têm pouco ou nenhum envolvimento na comunidade. Daí nasce à necessidade de planejamentos pastorais e investimentos em ações que visem atrair os afastados e os distanciados. Uma das principais preocupações da gestão paroquial corporativa deve ser com o acolhimento, pois sem acolhimento nenhuma ação pastoral e missionária dá resultado. Esse acolhimento visa à inclusão, sobretudo dos que estão à margem. Como afirmou o Papa Francisco: “Não podemos ficar encerrados na paróquia, nas nossas comunidades, na nossa instituição paroquial ou na nossa instituição diocesana, quando há tanta gente esperando o Evangelho!”. Uma administração ou gestão corporativa visa ir ao encontro dos que estão esperando o Evangelho e envolvê-los na comunidade, para que se sintam sujeitos dela e não meros objetos.
GESTÃO PARTILHADA
Uma paróquia bem gerida é uma paróquia cuja gestão é partilhada. Gestão partilhada é gestão participativa, onde as decisões são tomadas nas reuniões dos Conselhos e nas Assembleias paroquiais, onde todos podem falar dando sua opinião, sugestões, votando e decidindo junto, sem o monopólio do padre, ou de alguma liderança mais influente da comunidade. Alcançar essa modalidade de gestão exige conversão pastoral de toda a paróquia e não apenas de alguns. Essa conversão passa pelo conhecimento dos desafios da paróquia e das oportunidades de mudanças, passando de um modelo de paróquia centralizadora para uma paróquia rede de comunidades, pois a grande comunidade, que se concentra comumente na tradicional igreja matriz, praticamente impossibilita as pessoas de manterem vínculos humanos e sociais e, portanto, de se sentiram partícipes, sujeitos dessa comunidade. Já as pequenas comunidades favorecem a participação. Por isso, se se quer uma gestão eficaz, ela precisa ser partilhada. É preciso seguir na linha da setorização da paróquia em unidades menores, e na formação de pequenas comunidades nesses setores, onde as pessoas possam se conhecer e formarem ali verdadeiras comunidades, decidindo juntas as suas ações (cf. Doc. 100, n˚ 244ss).
Enfim, a proposta é planejar uma gestão paroquial que seja mais eficaz, de modo a tornar a paróquia mais empreendedora no sentido de se ter atitudes mais ousadas e atualizadas, que respondam aos desafios da atualidade; atitudes de pessoas consagradas ou leigas que decidiram realizar plenamente sua missão de batizadas, conscientes de sua participação e missão na Igreja. Deste modo, uma gestão mais partilhada, não mais centrada na figura do padre, ou de quem faz a sua vez, mas uma gestão corporativa, isto é, uma gestão comunitária, onde um conjunto de pessoas, por meio de Conselhos e Assembleias, decide junto à vida da comunidade. Paróquias com esse perfil com certeza produzem frutos (Mt 13, 23) e esses frutos permanecem. Esses são apelos da Igreja para a renovação das estruturas paroquiais, de modo que elas estejam em estado permanente de missão, atentas aos sinais dos tempos.
POR PE. JOSÉ CARLO PEREIRA, CP
Pe. José Carlos Pereira, CP é Doutor em Sociologia, Mestre em Ciências da Religião, Membro do Núcleo de Estudos Religião e Sociedade (NURES), do Programa de pós-graduação em Ciências Sociais da PUC/SP, Autor de diversos livros, dentre eles: “Assembleia Paroquial – Roteiro de preparação e realização”, “Manual da Secretaria Paroquial”, “Religião e Exclusão Social – A dialética da exclusão e inclusão nos espaços sagrados da Igreja Católica”, “Gestão Paroquial – parábolas”, “Paróquia Missionária – à luz do Documento de Aparecida”, “Gestão Eficaz – sugestões para a renovação paroquial”, dentre outros. Membro do Conselho de Conteúdo da revista Paróquias & Casas Religiosas. É assessor do CCM (Centro Cultural Missionário), de Brasília/DF, organismo da CNBB e ministra cursos e palestras em paróquias e dioceses do Brasil.
Atitude corporativa