O Futuro da arquitetura sacra

28 de novembro de 2024 por
O Futuro da arquitetura sacra
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Por Isabella Dalfovo.


Um hiato: é assim que defino um longo período que passamos na arquitetura Sacra nacional. Desde a década de 80, poucas são as Igrejas que se destacam com uma arquitetura simbólica e representativa. Além disso, considero os anos 90 os mais difíceis na concepção dos edifícios religiosos - algo se perdeu na arquitetura.

Com essa análise geral do nosso cenário, eu, Isabella Dalfovo, passei a desenvolver um novo conceito em arquitetura Sacra, inspirada em conceitos históricos e litúrgicos e com a nítida missão de criar edifícios que COMUNIQUEM algo maior.

A Capela São Maximiliano Maria Kolbe é um exemplo desse compromisso tátil. Embora tenha sido inspirada na Escola Gótica, a construção tem uma visão totalmente contemporânea e exclusiva. Através da utilização da verticalidade e da iluminação natural, consegui criar um edifício que de longe se percebe como Igreja e que proporciona uma experiência sensorial, tanto na parte interna quanto na parte externa.

Trata-se de um novo Gótico, talvez? Acredito que não. Chamaria apenas de  “Nova Arquitetura Sacra”, cujas bases conceituais se apropriam, peremptoriamente, da análise antropológica e psicológica do homem atual e sua relação com as edificações.

Portanto, o desafio foi criar algo único e totalmente diferente das demais edificações contemporâneas. A verticalidade proposital tem diversas funções. A principal é a transcendência:   fazendo-nos lembrar sempre que existe algo maior, quem está dentro percebe a prumidade destacada pela estrutura da cobertura aparente, fazendo uma releitura de algo renascentista.  Além disso, ao despertar curiosidade e interesse, as transparências convidam o fiel a adentrar no Espaço Sagrado. Internamente, o ponto focal é o presbitério que tem ao fundo um pano de vidro, onde o céu é a própria arte. Transparência e luz em serviço do sublime e da comunicação com o sagrado. 

Diferente? Sim, mas conscientemente retomando a Sacralidade dos antigos edifícios religiosos que nos tiram o fôlego e induzem ao despertar para o Divino, o Sagrado. A beleza é  utilizada como instrumento da fé – não como mera vaidade do criador do edifício.

Algo na arquitetura Sacra ficou esquecido neste período que chamo de hiato. Alguns edifícios não servem à liturgia, outros não despertam a imaginação. A arquitetura Sacra precisa ,por fundamento,  transmitir mensagens através de símbolos. 

Nesta capela, por exemplo, eu criei entradas de luz no alto da cobertura - o que nós arquitetos chamamos de iluminação zenital. Na prática, essa luz que surge de cima, oculta, misteriosa, desperta sensações, trabalha com o imaginário e percepções, dá um ar de mistério. 

Trabalhar com elementos que causem essa sensação de mistério é fundamental pois através da não compreensão e surpresa com alguns elementos arquitetônicos o indivíduo é induzido à reflexão.  O homem percebe que este edifício é diferente dos demais, que se encontra em um lugar único, mágico: um edifício religioso, uma Igreja.


Mas por que é tão importante termos Igrejas tão emblemáticas? Ora, a Igreja nos lembra da fé, da religiosidade, do cristianismo. Impossível passar por um edifício como esse e não o perceber.  

Eu sempre digo que as pessoas viajam o mundo por dois motivos: para conhecer belezas e paisagens naturais ou a arquitetura local. Dentre arquitetura local se destacam as Igrejas. A Igreja é um marco simbólico de fé, da existência de Deus. É dentro deste edifício religioso onde a palavra de Deus é constantemente lembrada e reforçada. São nesses edifícios que nós, mortais, recorremos em momentos de dúvida, medo ou gratidão. 

Essa Capela, por exemplo, tornou-se um dos locais mais procurados para cerimônias de casamento e batismo,  com a agenda lotada por um ano. O que isso significa? O ser humano busca a beleza e nada mais significante do que a Beleza do Sagrado. 

Em conclusão: o edifício religioso é um lugar único, com uma função transformadora e subjetiva. Portanto, sua arquitetura não pode ser menos do que ser excepcional e inspiradora. Esta divina conexão entre o espaço, o sagrado e o homem: esse é meu desafio enquanto arquiteta e minha grande motivação na Arquitetura Sacra.


Isabella Dalfovo é Arquiteta Urbanista, Premiada como Talento 2006 pela Fundação Assis Gurgacz, Classificada para o Concurso Ópera Prima 2006. Concurso Casas de Luanda 2011, Contrato com Programa do Gugu 2011, Professora do Curso de Arquitetura de Interiores SENAC, Prêmio Master Paraense de Qualidade 2012, Concurso Frate Sole de Arquitetura Sacra, entre outros.

Site: www.isabelladalfovo.com

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