Por Isabella Dalfovo.
Quando falamos de arquitetura sacra, devemos ter primeiramente o cuidado em respeitar a Liturgia. Estamos falando da arquitetura de uma religião que possui mais de dois mil anos de história, sendo assim, não podemos apenas criar uma obra arquitetônica qualquer, por mais bela que seja.
Sempre expresso que ao projetar igrejas, o arquiteto deve se distanciar do seu ego e se focar em algo maior, que é Deus. Deus, no sentido do que Ele representa, de sua importância e grandeza, também devemos tentar entender como as pessoas sentem e se aproximam deste Deus.
A arquitetura sacra se difere de qualquer outro projeto arquitetônico, porque temos responsabilidade direta com a fé das pessoas. E ao longo dos séculos, a Igreja Católica sempre fez bom uso da arquitetura no sentido de transmitir sensações e mensagens às pessoas.
Atualmente, o maior desafio está em desenvolver uma Igreja contemporânea que mantenha as características tradicionais de uma Igreja, mas que também reflita nosso tempo.
MEIOS E RECURSOS QUE PODEM SER UTILIZADOS EM UM PROJETO
Como exemplo, todos meus projetos de arquitetura sacra são, primeiramente, apresentados ao padre ou religioso responsável pela igreja em questão, juntamente com o representante da comunidade. Caso seja aprovado nesta primeira fase ou passo, o próximo passo é reunir a comunidade e a ela apresentar o projeto; a última etapa, após todas as aprovações, é a apresentação ao bispo e ao conselho de arquitetura.
É importante salientar que os projetos sempre são apresentados em 3D (terceira dimensão), usando recursos de foto realismo para que a compreensão do projeto seja plena, porque isto possibilita, inclusive, a execução de projetos para outras cidades e estados.
ALGUMAS OBSERVAÇÕES PERTINENTES
Para entender certas dimensões acerca de regras litúrgicas, modelos e técnica na composição e construção de um projeto em arquitetura sacra, sugerimos que cada projeto tenha como fonte livros específicos, para não faltar com alguma regra litúrgica. Aconselho que o mesmo seja feito pelos gestores, como por exemplo:
* O espaço litúrgico da celebração, Cuthbert Johnson, OSB e Stephen Johnson;
* O espaço da celebração: mesa, ambão e outras peças, Regina Céli de Albuquerque Machado.
Também é muito importante ter conhecimento sobre os Documentos do Concílio do Vaticano II, em especial “Sacrossanctum Concilium” e sobre os rituais da celebração da Santa Missa, pois é fundamental que se tenha o conhecimento da liturgia.
A ARQUITETURA SACRA MODERNA
Não consigo ver, como nos dias de hoje, construir uma igreja ou realizar obra sacra em qualquer outro estilo. O motivo é simples: os estilos arquitetônicos refletem um tempo e uma época. Não podemos recriá-lo ou simplesmente imitá-lo.
A Arquitetura Sacra atravessa os tempos e, é importante que sua arquitetura deixe clara em que época ou período ela foi construída, pois é assim que se faz a história.
Sendo assim, as igrejas devem ser modernas, porque não digo modernas, ligadas diretamente ao modernismo, me refiro às modernas no sentido de século XXI.
Devemos procurar construir igrejas com identidade, que sejam simplesmente sublimes e expressem a verdadeira divindade de Deus.
Nesse sentido, se articula com a produção cientifica e tecnológica, ou seja sua técnica utilizada para manter um ambiente harmonioso, acerca dos bens dessa massa patrimonial que a Igreja possui em sua estrutura.
TÉCNICAS SOBRE ARQUITETURA SACRA
Em meus projetos, tenho buscado certa fluidez, procurando por meio das linhas arquitetônicas criar uma obra que seja sublime, diferenciada dos demais edifícios e que, de alguma forma, seja encantadora. Procuro fazer com que a própria arquitetura seja um convite para as pessoas adentrarem a igreja.
Trabalho bastante com transparência, gosto que o interior de uma igreja seja visto de fora, porque bem sabemos que o homem moderno é atraído por essa liberdade. Como diz nosso Arcebispo Dom Mauro, se referindo a cada novo projeto meu: "a igreja deve ser bem iluminada e ventilada".
O interior da igreja deve seguir os mesmos conceitos, porque ela deve formar uma unidade. O projeto luminotécnico é um fator de suma importância, pois com ele conseguimos criar efeitos cênicos que podem ser usados de forma maravilhosa durante a celebração.
Trato cada projeto de igreja para que ela se torne o símbolo da comunidade ou bairro em que se encontra. É importante que as pessoas se identifiquem e se sintam orgulhosas desta obra, seja ela reformada ou uma obra iniciada do zero. É importante ainda salientar, que é possível transformar plenamente uma igreja por meio da reforma. Cito como exemplo a Paróquia Santa Luzia em Cascavel: a obra original era basicamente um barracão, seu interior era mal iluminado e ventilado, com soluções criativas conseguimos transformar plenamente esta igreja.
Isabella Dalfovo é Arquiteta Urbanista, Premiada como Talento 2006 pela Fundação Assis Gurgacz, Classificada para o Concurso Ópera Prima 2006. Concurso Casas de Luanda 2011, Contrato com Programa do Gugu 2011, Professora do Curso de Arquitetura de Interiores SENAC, Prêmio Master Paraense de Qualidade 2012, Concurso Frate Sole de Arquitetura Sacra, entre outros.
Site: www.isabelladalfovo.com