Todo projeto arquitetônico é um desafio para o bom profissional que o elabora. Seja para uma nova edificação, seja para uma reforma. Mas, o de uma Igreja é um desafio mais significativo, pela especial simbologia que deve atender. A concepção desse projeto deve apresentar um resultado marcante por sua qualidade arquitetônica. Deve se tornar, seja qual for seu porte, um marco na cidade, uma referência importante e significativa na paisagem urbana e que seja atraente, convidativo e confortável para os fiéis. Que convide ao congraçamento, à meditação, à elevação, às liturgias.
Todo bom projeto deve atender às necessidades e expectativas, abordagens que devem ser cuidadosamente discutidas e definidas em conjunto com o pároco (o gestor interno do processo) e com a comunidade, antes do início do projeto.
O QUE SÃO ESTAS NECESSIDADES E EXPECTATIVAS?
Necessidades: são as definições físicas (chamadas também de "programa"), necessárias ao funcionamento a contento da edificação. Essa etapa deve ser bem aprofundada para que todas as funcionalidades sejam definidas e analisadas sendo depois atendidas pelo projeto.
Exemplificando: quantos e quais deverão ser os ambientes, os tamanhos ideais desses ambientes, suas características; como devem ser organizado, como devem ser seus mobiliários e layouts de ocupação e como deve ser a articulação entre esses espaços (suas vizinhanças, acessos, circulações), etc.
Expectativas: são os aspectos mais complexos a serem pesquisados e definidos: as edificações devem expressar uma mensagem, devem ter seu caráter. No caso de um templo, essas expectativas se revelam particularmente na definição da volumetria externa e da volumetria da nave, que é um espaço que deve ser muito especial. E, muito importante, além de atender às necessidades e expectativas funcionais e estéticas de um templo, o projeto deve ser adequado às características sociais, históricas e culturais de cada comunidade.
SÓ O ARQUITETO NÃO BASTA
Os projetos devem ser desenvolvidos sob a coordenação do arquiteto, por uma equipe que envolve outros profissionais da área de engenharia, especializados nos outros projetos que também são necessários: projeto estrutural/fundações, elétrico, hidráulico, ar condicionado, luminotécnico, acústico, prevenção e combate a incêndios, etc.
O trabalho conjunto de todos esses profissionais permite que se atinja uma ótima qualidade técnica no resultado final da obra.
É um investimento que se paga no correr da obra porque possibilita:
- O correto dimensionamento dos espaços e dos elementos construtivos e das instalações;
- Uma correta estimativa de custos e a definição de cronogramas de execução.
- A licitação para contratação de serviços e equipamentos feita dentro de uma base comum de informações.
Obs: não se deve deixar a cargo de fornecedores definições e especificações de quaisquer tipos de equipamentos, sejam elétricos, luminotécnicos, mecânicos, ar condicionado, etc. Todos os participantes dessas licitações obrigatoriamente deverão utilizar os projetos fornecidos para elaborar seus orçamentos, permitindo uma fácil e objetiva análise das propostas, evitando-se distorções que encarecem os custos de obras.
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ASPECTOS IMPORTANTES
Alguns aspectos que normalmente são deixados de lado nos projetos, devem ser considerados com a máxima atenção:
1º. Conforto térmico: devemos utilizar no projeto soluções construtivas, principalmente nas alvenarias e nas coberturas que visem a manutenção de uma temperatura interna constante e agradável, diminuindo o impacto das variações externas, comuns em várias regiões de nosso país.
É necessário configurar boas soluções naturais de ventilação natural, complementadas quando necessário por soluções mecânicas (exaustão/ar condicionado) para atender os períodos de maior calor.
2º. Conforto acústico: são notáveis os históricos anfiteatros gregos e romanos, onde mesmo a céu aberto a transmissão das falas atingia sem qualquer problema todos os participantes dos espetáculos.
Devemos buscar nas igrejas um bom desempenho sonoro tornando confortável a audição para todos os presentes às celebrações, minimizando a necessidade de altas potências nos equipamentos sonoros.
O conforto acústico tem muito a ver com a configuração do espaço da nave, onde devem ser evitadas paredes laterais paralelas entre si e o teto plano paralelo ao piso. Quando necessário existem soluções complementares para se conseguir uma perfeita adequação sonora aos ambientes.
3º. Iluminação: importantíssima, tanto a natural e artificial. A iluminação é fundamental para criar uma ambientação diferenciada. Deve ser cuidadosamente pensada e projetada.
A iluminação natural deve permitir a utilização quase plena da nave durante o dia e enriquecer a visualização do espaço, com soluções criativas.
A artificial tratada em dois níveis: um geral para iluminação homogênea da nave/presbitério, permitindo confortável circulação das pessoas e as leituras e, o segundo nível, é o de uma iluminação cênica (interna e externa) para realçar e valorizar aspectos dos espaços litúrgicos e do projeto arquitetônico.
4º. Acessibilidade: hoje existe Lei Federal que rege as condições de acesso e uso (mobiliários inclusive) para portadores de variados níveis de limitações. Essa legislação deve ser atendida em qualquer projeto.
Estes itens em conjunto configuram também um cuidado com uma questão cada vez mais presente na atuação de todos os profissionais de áreas técnicas e também na sociedade, que é o da sustentabilidade no desempenho das edificações. Para isso, devemos procurar utilizar: materiais recicláveis e soluções que economizem energia e água.
E para finalizar, não devemos esquecer que devem ser atendidas as disposições legais definidas pelas prefeituras, com a necessidade de aprovação do Projeto Arquitetônico nos setores competentes.
Este artigo foi escrito por Mauro Magliozzi para a Revista Paróquias.
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