Por Pe. José Carlos Pereira, CP.
“É preciso ter à frente de nossas secretarias paroquiais pessoas bem preparadas, profissionais que saibam lidar com todas as situações desta área, resolvendo-as da melhor maneira”
A Igreja, desde a Conferência de Aparecida, tem estimulado a ação evangelizadora das paróquias, convocando cada batizado a ser um discípulo missionário de Cristo. Desde então, as paróquias são tratadas como células vivas da Igreja e sua missão é acolher e fazer discípulos, enviando-os em missão no sentido teológico do termo. Para que isso aconteça, é preciso, primeiro, cuidar de uma das dimensões da ação evangelizadora: o acolhimento.
O acolhimento é o primeiro passo para uma missão autêntica, que avance além das fronteiras de nossas paróquias, atingindo a todos, como propõe o projeto da “Missão Continental”. Paróquia que não acolhe bem em seu expediente terá carência de operários para sua messe. Terá dificuldade em encontrar discípulos missionários. Assim sendo, o acolhimento deve ser tratado como missão. Uma missão que começa naquele que é o espaço primordial da paróquia: a secretaria paroquial.
Ao pensar uma paróquia em estado permanente de missão, como pede o ‘Projeto Nacional de Evangelização’, é comum que a atenção de seus gestores, párocos, administradores paroquiais, secretários e demais agentes de pastoral, se volte para o que é mais evidente como, por exemplo, a preocupação em formar redes de comunidades. Para que esse ideal se concretize, é preciso antes que haja entre todos, inclusive da parte do pároco e de quem atende no expediente paroquial, em especial o secretário e secretária, um acolhimento fraterno, que demonstre mais caridade que autoridade. Que da parte do padre e dos(as) secretários(as) haja atenção, dedicação e, sobretudo, amor fraterno na missão de acolher.
Dentro do ‘Projeto da Missão Continental’ a secretaria paroquial deve ser o espaço que viabilize o processo de evangelização permanente da paróquia, por meio da disponibilização de recursos e meios, humanos e materiais, que ajudem na realização da missão, de modo que quem atua em outras frentes missionárias, seja nas pastorais ou na formação de agentes, sintam-se amparados por um departamento que cuida da parte burocrática e administrativa, com amor, enquanto a outra missão acontece. Porém, para que isso ocorra, é preciso ter à frente de nossas secretarias paroquiais pessoas bem preparadas, profissionais que saibam lidar com todas as situações desta área, resolvendo-as da melhor maneira.
Observe e aplique estas 4 recomendações:
1ª. Quem atende na secretaria paroquial não pode ser alguém alheio à realidade da paróquia, mas ser um agente comprometido e consciente;
2ª. Não basta preparar bem um documento, é preciso conhecer as causas e efeitos desse documento e sua implicação na missão;
3ª. Quando uma pessoa que atende na secretaria paroquial se limita a exercer sua função meramente como um funcionário, mecanicamente, sem envolvimento missionário na paróquia, todos perdem com isso, inclusive ela própria e a paróquia, porque o diferencial de um atendente paroquial é o seu envolvimento com a Igreja, no sentido de ser alguém que conhece e participa de toda a sua conjuntura. Alguém que exerce sua função como missão;
4ª. A secretaria paroquial é como se fosse o “coração” da paróquia. Ela pulsa o tempo todo, em cada ação dos que ali atuam, fazendo com que essa célula viva da Igreja se multiplique em ações que vão fazer dela um espaço de construção do Reino de Deus.
Invista na formação e informação.
Enxergando a secretaria paroquial por este prisma, temos noção do quanto ela é importante na missão da paróquia. Por esse motivo, não dá para manter nela pessoas despreparadas, ou que não querem se preparar. Pessoas que se acomodam na mesmice e não inovam seu potencial, sua criatividade e sua formação profissional e evangélica não servem para estar atuando no “coração” da Paróquia. Isso vale para as secretárias e secretários e para os padres e administradores paroquiais. É preciso investir em formação e informação, e isso começa pela aprendizagem das coisas práticas que ajudam a desempenhar bem o trabalho até a formação religiosa para a missão.
Qualquer empresa que se preze, seus funcionários e dirigentes precisam se capacitar, a cada dia, para ajudá-la a crescer no seu ramo de atuação. Com a paróquia não pode ser diferente. Ela não é menos importante que as outras empresas. Pelo contrário, ela é muito mais importante que qualquer outra empresa porque o seu empreendimento não está relacionado apenas com os bens materiais, mas com a vida, o bem mais precioso. Ela atua no mundo dos bens simbólicos, lida com aquilo que as pessoas têm de mais importante, o sagrado e este não pode ser banalizado. Se o sagrado é banalizado, a vida é banalizada, porque o sagrado norteia a vida e a vida é sagrada.
Investir na formação de quem atua no expediente paroquial é investir na missão da paróquia. Além de responsabilidade social, é responsabilidade missionária dos seus administradores. Parafraseando o Documento de Aparecida (n. 306), pode-se afirmar que se queremos que a paróquia seja um centro de irradiação missionária, sua secretaria deve ser também lugar de formação permanente. As pessoas que atuam na secretaria paroquial devem ser pessoas bem formadas e informadas e de confiança do pároco. Em suas mãos são confiados bens preciosos para a missão da Igreja e não podem ser mal administrados.
Secretaria: lugar de missão permanente.
Vale lembrar que a secretaria paroquial é como se fosse o escritório de uma empresa, no sentido profissional do termo e, por isso, deve ser organizado como tal, desde as pessoas que ali atendem até a sua parte material, englobando o ambiente, os arquivos e os documentos, porém, acentuando a sua diferença fundamental: a missão de acolher e de servir.
Nunca podemos perder de vista a dimensão empresarial de uma paróquia, porém, muito menos ainda a sua dimensão evangelizadora. Quem não consegue vê-la por esses dois distintos ângulos, não vai ser um bom administrador e não somente a paróquia, mas a comunidade inteira vai perder com isso. Vê-la como empresa não significa que vamos tratar as pessoas de modo mecânico e superficial, mas saber que ela tem um dos maiores empreendimentos: a missão de evangelizar. Para isso, é preciso organizá-la como se organiza uma empresa e dirigi-la como dirige uma família: com amor e consciência de pertença. Nesse sentido, a secretaria paroquial não pode ser qualquer lugar. As pessoas que ali atendem não podem ser qualquer pessoa.
É um lugar que deve agregar a eficiência de uma empresa do segundo setor, a gratuidade de uma empresa do primeiro setor e a caridade, própria das empresas do terceiro setor.
Agregado a tudo isso, vem o elemento que é próprio da Igreja, a missão, o amor a Deus e ao próximo. Quando conseguimos reunir todos esses elementos num único espaço que é a secretaria paroquial, a nossa paróquia será e estará cumprindo seu verdadeiro papel: ser célula viva da Igreja, espaço de evangelização e de construção do Reino de Deus, em estado permanente de missão. Tudo isso é possível quando temos uma paróquia bem equipada, bem organizada, com gente bem preparada para atender e acolher bem todos os que chegam à secretaria paroquial.
Pe. José Carlos Pereira, CP
Doutor em Sociologia e Mestre em Ciências da Religião
cpzeca@uol.com.br