Nos últimos quarenta anos, acompanhamos uma evolução significativa na compreensão, na organização e na participação consciente no que tange ao dízimo nas dioceses e paróquias do Brasil. O que o Estudo 08 da CNBB, de 1974, denominava como ‘sistema de contribuição’, tornou-se uma pastoral dinâmica e organizada. A implantação do dízimo, que era uma receosa exortação, foi corajosamente acolhida e hoje é realidade na grande maioria das paróquias, em todo o território nacional. As pessoas que abraçavam esse trabalho na forma de coletores do dízimo, atualmente são reconhecidas como agentes de uma Pastoral catequética e administrativa. Por isso, notamos o surgimento de um novo perfil entre os agentes: o missionário empreendedor.
Percorrendo a trajetória histórica do dízimo, desde os anos 70, não temo em afirmar que o Estudo número 08, por seu profetismo, eclesialidade e ação missionária, é o grande responsável por toda essa evolução. Primeiramente, porque o Estudo se distancia de uma ‘leitura bíblica fundamentalista’ sobre o tema. Outrossim, ilumina a realidade com a Sagrada Escritura. Depois, por não permitir o reducionismo de métodos, mas sim abrir espaço para o diálogo, ideias e novas expressões comunitárias, tanto na conscientização como na implantação do dízimo. Permite, ainda, que a reflexão transcenda a esfera ‘clero’, outorgando aos leigos(as) autonomia e protagonismo no desenvolvimento, em todos os processos. O Estudo número 08 oxigenou o tema que durante séculos se viu preterido, asfixiado na má relação entre a gestão eclesial e a gestão espiritual. Se, inicialmente, foi motivado para a substituição progressiva das taxas e outras práticas de alocação de recursos consideradas inadequadas, hoje, além de suprir tais anseios é o mais forte aliado na formação e vivência comunitária.
A Pastoral do Dízimo aos poucos se revela na fisionomia do Bom Pastor. Sua missão é cuidar das ovelhas. Diferentemente do que se pensava até pouco tempo, a pastoral não é responsável pela administração financeira da paróquia e, sim, pelos fiéis: os já dizimistas, e os futuros dizimistas. Seus desafios são enormes, pois aborda um assunto cujas fragilidades são potencializadas pela cultura hostil, na qual está imersa nossa sociedade. Falar de solidariedade em um mundo alimentado pelo individualismo; promover a vivência comunitária, em um mundo marcado pelo comunitarismo; falar sobre ideal coletivo comum, em um mundo cada vez mais impessoal e privado; ensinar e testemunhar valores e princípios sólidos em um mundo de cultura líquida (tese de Bauman) é tarefa árdua, que exige planejamento e estratégias de ação. Mais que isso, o êxito da Pastoral está intimamente ligado à visão missionária e empreendedora de seus líderes e agentes. Aliás, vale destacar que não se mensuram os bons resultados pelos valores arrecadados, mas pela qualidade de vida comunitária, pelo número de pessoas envolvidas, inseridas e enviadas à missão evangelizadora.
Empreendedor é o sujeito que consegue detectar, em meio ao caos, oportunidade de crescimento. Caracteriza-se pela maneira criativa e ousada com que concretiza ideias, envolve pessoas e alcança metas e objetivos para o bem comum. A missão da Pastoral do Dízimo é – pelo anúncio querigmático – promover o encontro das pessoas com Jesus. Sua meta é atingir nada menos que 100% dos fiéis, assim como ser fermento na gestão eclesial de modo que ela seja inteiramente participativa.
Nossas comunidades são celeiros de grandes empreendedores. Tenho encontrado ideias incríveis em minhas viagens pelo país. Destaco algumas, para que sejam inspiração para todos nós:
1. A Arquidiocese de Vitória criou, anos atrás, um ‘mascote do dízimo’, que fez enorme sucesso e que conseguiu dar mais leveza no lido com o tema.
2. Frei Rogério Soares, por meio de projetos sociais muito inovadores conseguiu, no bairro de Pituba, Salvador, alimentar a dimensão social do dízimo como em poucas paróquias do Brasil. Dentre eles destaca-se a inovação do ‘bazar de roupas usadas’ pela boutique paroquial.
3. Arquidiocese de São Luís, MA – Arquidiocese de Salvador, BA – Arquidiocese de Curitiba, PR - são algumas dentre as muitas que, anualmente, promovem encontros de formação do dízimo, elaborando todo material como: camisas, banners, cartazes, etc. Com profissionalismo e objetividade.
4. A Paroquia Santa Teresinha de Timbó, SC, em seu projeto arquitetônico, incluiu a sala do plantão do dízimo de modo harmonioso, prestigiando a beleza, a praticidade e a segurança de todos.
5. Muitas pastorais já se utilizam das tecnologias para agendamento de reuniões, envio de prestação de contas por SMS, e até mesmo formação. Whatsapp, Periscope e outros aplicativos são os mais utilizados.
6. Algumas Editoras, como A Partilha, Pão e Vinho, O Recado, Catholicus Editora produzem e publicam subsídios criativos, inovadores e que muito contribuem com os missionários empreendedores da Pastoral do Dízimo. Todo investimento deve prestigiar a formação e a conscientização. Cuidado com os souvenirs, presentinhos fúteis que em nada contribuem para a evangelização.
Empreender, inovar são formas de se reinventar para que permaneçamos fiéis à nossa identidade. Novos tempos exigem novas práticas, novos métodos e nova linguagem. Para que sejamos uma Igreja em saída, como exorta-nos Papa Francisco, é preciso que empreendamos sob a égide de um bom planejamento estratégico, que conheçamos o público alvo e suas urgências, que tenhamos, por eles, amor suficiente, para que nos tire da zona de conforto e da rotina improdutiva, para ações concretas que transformem a sociedade. Por isso, encontros como o CONADIZ (Congresso Nacional da Pastoral do Dízimo e da Partilha) são tão importantes na formação de nossos agentes. Enfim, é preciso que avancemos, cada vez mais, no propósito de ocuparmos nossas pastorais com missionários empreendedores.
Avante! Parabéns a todos os agentes da Pastoral do Dízimo deste País.
Aristides Luís Madureira é especialista em Comunicação (Mídia Eletrônica) e graduado em Processos Gerenciais. Há mais de 25 anos atua como missionário leigo, na implantação e reavivamento do Dízimo. Autor de várias obras, dentre elas destacam-se: “Pastoral da Partilha Manutenção”; “Dízimo em 30 segundos”; “Partilhando a Vida em Família” e dezenas de outros.
Site: www.editoraapartilha.com.br
Contato: aristides@editoraapartilha.com.br
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