Por Dom Edson Oriolo.
“É preciso incrementar a paróquias para que seja sacramento da Igreja próxima, localizável, visível, presente, reconhecível na vida das pessoas”.
O Concílio do Vaticano II foi definido como o “grande Pentecostes do século XX”. A intenção de João XXIII foi “apresentar aos homens do nosso tempo, íntegra e pura, a verdade de Deus, de tal maneira que eles possam compreender e a ela espontaneamente assentir” (cf. Mensagem à Humanidade, 20/10/1962).
Assim sendo, o Concílio foi para Igreja um divisor de águas em relação à sua dinâmica pastoral.
Os 16 documentos conciliares, constituições, decretos e declarações, vieram fundamentar e dinamizar a ação evangelizadora da Igreja. Contudo, não temos nenhum documento sobre a instituição paróquia. Nenhum dos documentos conciliares falou sobre a instituição paróquia, mas todos tiveram profundas repercussões na vida e constituição da mesma.
A Constituição sobre a Sagrada Liturgia foi o primeiro documento do Concílio do Vaticano §II e muito contribuiu para dar credibilidade à imagem da paróquia quando afirmou: “a paróquia é uma comunidade de fiéis onde está presente a Igreja de Cristo, o povo de Deus, o mistério da ceia do Senhor” (SC 42).
O Código de Direito Canônico confirmou a paróquia como uma comunidade de fiéis (cf. 515§1) e o Catecismo da Igreja Católica concluiu: “A paróquia é um determinada comunidade de fiéis, constituída de maneira estável na Igreja particular, e seu cuidado pastoral, sob a autoridade do bispo diocesano, está confiada ao pároco, como o seu pastor próprio. É o lugar onde todos os fieis podem reunir-se para a celebração dominical da Eucaristia. A paróquia inicia o povo cristão na expressão ordinária da vida litúrgica e reúne-se nessa celebração; ensina a doutrina salvífica de Cristo, pratica a caridade do Senhor nas obras boas e fraternas” (cf. 2179).
A paróquia é uma determinada “comunidade de fiéis” com uma diversidade de vocações, de itinerários espirituais, diferentes estados de vida, pessoas de diversos carismas e dons, componentes humanos diversificados, laços familiares, pertenças sociais diferentes e heranças culturais distintas.
Nos dias de hoje, as pessoas se dirigem às paróquias para buscar os sacramentos. Não confiam muito na comunidade. As pessoas querem distanciar-se de qualquer pertença forte que pareça prendê-las e aliená-las e não desejam voltar a se comprometer com a comunidade que impõe regras, normas de conduta a todos os seus membros.
A paróquia está, pois, situada no meio de um conjunto mais vasto de instituições que prestam serviços aos cidadãos. As pessoas se dirigem à paróquia para solicitar uma série de serviços especializados em matéria religiosa (batismo, primeira eucaristia, crisma, confissão, matrimônio, ordem e unção dos enfermos). As pessoas querem usufruir destes bens simbólicos (sacramentos), mas sem estar sujeitas a um envolvimento de controle social do tipo hierárquico da Igreja.
A paróquia como “comunidade de fiéis” surge como a nova imagem padrão capaz de lançar os alicerces de um novo projeto de paróquia.
É preciso incrementar a paróquias para que seja sacramento da Igreja próxima, localizável, visível, presente, reconhecível na vida das pessoas.
Frente a essa realidade, promover a revitalização da paróquia implica em assegurar sua missão institucional e torná-la mais envolvente, isto é, profundamente aberta e solidária, a serviço da proximidade entre o pároco, como animador e não protagonista da comunidade e os membros das pastorais, sem se esquecer dos inúmeros voluntários leigos que prestam algum ministério na paróquia.
Finalmente, de acordo com a eclesiologia da comunhão, a paróquia como “comunidade de fiéis” (cf. SC 42) confiada a um presbítero que representa o bispo (cf. PO 5) deve ser organizada na base do povo. Os fiéis que a compõem são a Igreja e contribuem para a sua missão neste lugar. O presbítero não faz tudo, mas vela para que tudo se faça em espírito de comunhão e participação.
A paróquia como “comunidade de fiéis” é, pois, considerada importante, quer para a renovação do ministério presbiteral, quer para a aprendizagem da colaboração pastoral da parte dos fiéis que tiverem as qualidades requeridas para tal.
Dom Edson Oriolo é Bispo Auxiliar na Arquidiocese de Belo Horizonte/MG, Mestre em Filosofia Social, Especialista em Marketing, Pós-Graduado em Gestão Estratégica de Pessoas, membro do Conselho de Conteúdo da Revista Paróquias. Obras publicadas: “A nova pastoral do dízimo: formação, implantação e missão na Igreja”, Catholicus Editora; “Paróquia renovada: sinal de esperança”, “Gestão paroquial: para uma Igreja em saída” e “Pastoral do Dízimo: da comunicação ao comprometimento”, Paulus Editora.